domingo, 7 de fevereiro de 2010

IGNORÂNCIA

Existe uma classe de intelectuais cada vez mais presente no nosso pequeno mundo. São aqueles seres que gostam de exibir os seus conhecimentos em todas as circunstâncias, mesmo quando o assunto tratado é banal. Até quando não há nada para dizer, quando as pessoas estão simplesmente caladas, há neles uma necessidade quase vital de dizer frases do estilo: "Sinto-me como que mergulhado na obra de Paul Éluard e André Breton NO DEFEITO DO SILÊNCIO"...

Eu tenho um amigo assim... Pensando agora bem naquilo que acabo de escrever, acho que não estou a ser justa... Há que rectificar a minha afirmação anterior: o meu amigo é pior! O Paulo é uma boa alma, là no fundo, mas tem um grande defeito: gosta de espezinhar com a sua sabedoria aqueles que menos favores receberam da Deusa Minerva (cá entre nós, que raio de sabedoria pode representar um ser que nasce da cabeça aberta à machadada do pai que engoliu a mãe ainda viva, mãe essa que não foi lá muito prudente, não! Mas isto é uma outra elucubração que ficará para um outro dia!).
Há uma pergunta intensamente humilhante que nos é feita depois de confessarmos que não sabemos, aquela que é repetida num tom de desdém:"Não conheces??! Como é que não conheces??!"...
Pois, o meu amigo deve repetir essas sete palavras umas centenas de vezes por dia...

Tenho um outro amigo, o Simão, que pertence à classe dos intelectuais anónimos, aqueles que sabem mas não fazem questão de mostrar que sabem.

Há uma diferença nítida entre essas duas classes. Aqui vai um exemplo:
O Paulo e o Simão querem comprar o mesmo CD: Concerto em Do e Fá Bemol para violoncelo e rabeca de Giusepe Macaronintellettuali.
No caso do Paulo, a senhora da loja será envergonhada, completamente, totalmente, impiedosamente envergonhada por não ter nada sobre um compositor de tamanha envergadura.
No caso do Simão, a mesma senhora ouvirá: "Não faz mal! Vou levar outro CD então. Tem o último dos Clã?"

Eu gosto mais do Simão. É que o Paulo faz-me sentir menos inteligente do que realmente sou... E eu não gosto de andar enganada...
Por falarmos nos Clã, há uma estrofe de uma canção Adeus Amor que diz assim:
"Não suporto o teu modo
Carinhoso e paternal
No tom de quem sabe tudo
Sem saber o essencial"

SOBERBO!

Ísis

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