Existe uma classe de intelectuais cada vez mais presente no nosso pequeno mundo. São aqueles seres que gostam de exibir os seus conhecimentos em todas as circunstâncias, mesmo quando o assunto tratado é banal. Até quando não há nada para dizer, quando as pessoas estão simplesmente caladas, há neles uma necessidade quase vital de dizer frases do estilo:
"Sinto-me como que mergulhado na obra de Paul Éluard e André Breton NO DEFEITO DO SILÊNCIO"...
Eu tenho um amigo assim... Pensando agora bem naquilo que acabo de escrever, acho que não estou a ser justa... Há que rectificar a minha afirmação anterior:
o meu amigo é pior! O Paulo é uma boa alma, là no fundo, mas tem um grande defeito: gosta de espezinhar com a sua sabedoria aqueles que menos favores receberam da Deusa Minerva (cá entre nós, que raio de sabedoria pode representar um ser que nasce da cabeça aberta à machadada do pai que engoliu a mãe ainda viva, mãe essa que não foi lá muito prudente, não! Mas isto é uma outra elucubração que ficará para um outro dia!).
Há uma pergunta intensamente humilhante que nos é feita depois de confessarmos que não sabemos, aquela que é repetida num tom de desdém:
"Não conheces??! Como é que não conheces??!"...
Pois, o meu amigo deve repetir essas sete palavras umas centenas de vezes por dia...
Tenho um outro amigo, o Simão, que pertence à classe dos intelectuais anónimos, aqueles que sabem mas não fazem questão de mostrar que sabem.
Há uma diferença nítida entre essas duas classes. Aqui vai um exemplo:
O Paulo e o Simão querem comprar o mesmo CD:
Concerto em Do e Fá Bemol para violoncelo e rabeca de Giusepe Macaronintellettuali.
No caso do Paulo, a senhora da loja será envergonhada, completamente, totalmente, impiedosamente envergonhada por não ter nada sobre um compositor de tamanha envergadura.
No caso do Simão, a mesma senhora ouvirá:
"Não faz mal! Vou levar outro CD então. Tem o último dos Clã?"Eu gosto mais do Simão. É que o Paulo faz-me sentir menos inteligente do que realmente sou... E eu não gosto de andar enganada...
Por falarmos nos Clã, há uma estrofe de uma canção
Adeus Amor que diz assim:
"Não suporto o teu modo
Carinhoso e paternal
No tom de quem sabe tudo
Sem saber o essencial"SOBERBO!
Ísis